terça-feira, 1 de março de 2022

Slava Ukrayini

Todos os anos tenho-me queixado do mês de fevereiro e não tem sido por causa do frio, em três anos consecutivos, foram três perdas de três grandes seres humanos, cada um com a sua essência e caracter, mas três seres que tornavam o mundo melhor… 

Num destes fevereiros, dia em que tinha completado mais um aniversário, carregava mais um corpo em direção à eternidade, tratava-se de 22 de fevereiro. 
Este ano, dois dias após ter completado mais um ano em direção à velhice, dou comigo no sofá, incrédulo perante as notícias que surgiam na televisão: a Rússia tinha invadido a Ucrânia… Aquele país cuja bandeira é amarela e azul celeste, cores alegres que nos trazem uma sensação de paz e tranquilidade dada a sua conjugação de cores. Começam a surgir os primeiros rostos ucranianos cujas lágrimas rasgam os seus belos olhos azuis, vítimas de uma guerra não desejada e muito menos solicitada. Vê-se um pai choroso e consciente que aquele abraço à mulher e à filha poderá ser a última lembrança que levará consigo e a última imagem que a sua esposa poderá lembrar daquele que talvez fosse o amor da sua vida.
 As imagens na comunicação social são fortes: vários tanques de guerra avançam a toda a velocidade em várias frentes, assinalados com a letra “Z”, letra essa que nem existe no alfabeto russo, dou comigo ironicamente a pensar: será zoeira?! Zusos? Zorros? Zelensky?! Talvez uma forma de distinguirem os seus meios militares dos meios militares ucranianos… 

Sabemos que os ucranianos só queriam o melhor para si mesmos, viver a sua vida normal dentro da liberdade comum a qualquer outro país europeu. 

Digamos que a Europa é um continente evoluído e a paz vai prevalecendo na maior parte do tempo, não fosse a Rússia a cada passo provocar a sua destabilização, em 94 na Chechênia, em 2014 na Geórgia, em 2018 com a anexação da Crimeia (já na Ucrânia) e agora, em 2022 novamente com a agressão bélica à Ucrânia para uma guerra equiparada à luta bíblica entre David e Golias. Custa-nos perceber estes actos contínuos da Rússia, liderada há 22 anos por uma mente perturbada, presa nos traumas do seculo passado, mas que traumas serão esses?! 

Continuam vivas as ambições imperialistas que jamais trarão algo de bom para os seus cidadãos, este tipo de agressões vai muito para além da compreensão de uma mente sã. Rússia, um país rico, produtor de petróleo e distribuidor do seu gás natural, mas que em boa verdade, os seus habitantes continuam presos ao passado e alimentados por propaganda política imperialista infundada, onde os cidadãos ricos optam por trocar a sua pátria para viver em países onde existe a liberdade de expressão e um futuro para os seus filhos, longe das ideologias bélicas. 
Sabe-se que a maior parte da população russa vive no limiar da pobreza, o salário mínimo na capital ronda os 161€/mês. 

Nesta guerra sem qualquer nexo de causalidade, estão a ser ceifadas vidas de idosos, jovens, adultos e sobretudo crianças que não conhecerão o amanhã, que deixarão de sentir o abrir de uma janela e saborear os primeiros raios de sol vislumbrados no horizonte, deixarão de escutar o chilrear matinal dos pássaros a anunciar um novo dia, que deixarão de sentir a mão de um dos pais numa caminhada rotineira até o autocarro que os leva à escola, deixarão de poder ver aqueles pedaços de algodão gélido que cai sobre os seus rostos… Resultará num vazio jamais preenchido… Tudo por culpa de um homem, se é que lhe podemos chamar como tal… 
A guerra deixará a Rússia numa posição extremamente difícil perante o mundo ocidental, viver-se-ão anos de uma nova guerra fria, serão dados vários passos atrás no que toca ao progresso da civilização humana, a Rússia jamais será vista com olhos de outrora, infelizmente os seus cidadãos sofrerão com esse rotulo. 

A guerra só acabava quando os debaixo se movem e os de cima caem, por isso, povo russo, têm a responsabilidade de poder mudar o rumo da história, pensem por vocês e pelo vosso futuro, os bilhões que Putin tem, talvez não acabem, porém, as vossas economias desaparecerão como cinzas sopradas pelo vento, talvez aí, acordem, e cheguem à conclusão obvia que foram manipulados pela nova reencarnação de Hitler. 

A todos os cidadãos ucranianos “Slava Ukrayini”.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Festa de S. João na minha aldeia na década de 80/90

 


A Festa de São João na minha aldeia transmontana

No dia de São João, a aldeia de Mafómedes  assumia-se como a rainha das “Pilhagens”. 

Muito depois da hora do jantar, os masculinos de Mafómedes reuniam-se junto ao café Azenha no intuito de preparar o maior assalto às varandas e jardins dos nossos conterrâneos, delineavam-se estratégias, distribuíam-se tarefas e corrigiam-se erros cometidos em anos anteriores. A adrenalina era estonteante… 

Era chegada a hora em que vasos de todas as varandas e jardins afins da nossa aldeia sofrerem um desbaste, os vasos iriam fluir num só jardim: o largo do café Azenha. Tudo era meticulosamente programado à medida que se avançava no terreno, não poderiam ser cometidas falhas que já tivessem ocorrido em anos anteriores, a noite era só uma, ela mesmo e mais nenhuma, São João em Mafómedes era único! Cada casa virava uma espécie de “objetivo alvo”! Ninguém poderia ser detetado ou apanhado, o trabalho de equipa tinha que funcionar e a nossa audácia tinha que prevalecer. Em “território inimigo” éramos destemidos e ao mesmo tempo cautelosos, dependendo do guerreiro nomeado para a tarefa, o silêncio ganhava vida e no escuro aguardávamos que o nosso combatente fosse bem-sucedido, quanto maior fosse o vaso maior seria a nossa satisfação. O Café Azenha era o aeroporto da aldeia e o tráfego era intenso, chegavam vasos desde o Bairro Novo até as Roseiras, os vasos aterravam a uma velocidade vertiginosa. Estávamos sempre desconfiados que pudessem surgir alguns dos vasos das nossas casas, o que acabaria por acontecer com o passar dos minutos, ninguém levava a mal, o queríamos era aventura! Lembro-me que em algumas casas tínhamos um cuidado redobrado, entre elas, a da Dona Almira que já nos aguardava atrás da sua porta e aí éramos surpreendidos, a vassoura surgia num ápice e as nossas cabeças viravam uns autênticos capacetes… Seguiam-se as casas seguintes, algumas delas eram um autêntico “jigsaw”, linhas que se entrelaçavam nos vasos, objetos que caiam assim que tentássemos levantar um dos seus vasos e quando caia algo era como um trovão numa tempestade, o silêncio era tanto que um pequeno som parecia um autêntico foguete no meio da noite, ficávamos paralisados com a sensação que toda aldeia tinha escutado… Pelo menos o dono da casa surgia de rompante mais uma vez vitorioso e lá tínhamos nós que dar à sola! Ficávamos sempre com um sabor amargo nesse tipo de situações, mas o que interessava era mesmo a aventura, então passávamos à casa seguinte…. No meio de tudo isto havia quem dizia que a sua casa era como uma espécie de Estados Unidos da América, “Forte e impenetrável”, eis que numa dessas noites resolvemos subir a parada, o Sr. Manuel teria de ficar sem todos os vasos ou a nossa reputação jamais seria a mesma, passamos um bom bocado a preparar o esquema e decidimos ir todos ao seu terraço, subimos o portão e carregámos todos os vasos que a sua casa continha. Fosse qual fosse o peso de cada vaso, fosse qual fosse o material que o constituia, poderiam ser barro, plástico ou mesmo cimento. Éramos como formigas trabalhadoras e unidas… Sabem que mais?! Bons e velhos tempos!